Os irmãos do “Arco-íris” – Um caso de Chico Xavier por Geraldo Lemos Neto

Os irmãos do “Arco-íris” – Um caso de Chico Xavier por Geraldo Lemos Neto

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Chico Xavier no Centro Espírita Luiz Gonzaga, na
década de 50, e com Geraldo Lemos Neto em sua residência em Uberaba, em 1987
  
Corria o mês de abril de 1931. A 18 de abril, a
segunda mãe de Chico Xavier lhe chama e avisa de que estaria de partida. Sente
que seus dias na Terra terminaram. Chico chora, pedindo a ela que ficasse, que
não o abandonasse à própria sorte. Era ela a única pessoa da confiança do
médium, em quem ele depositava a esperança de dias melhores. Era com ela, e
somente com ela, que Chico se abria, contando tudo quanto via e ouvia do mundo
espiritual, numa cidade em que a maioria das pessoas não lhe dava crédito, ou o
considerava louco, ou mesmo tomado pelo demônio, tendo em vista a grande
maioria católica de Pedro Leopoldo. Dona Cidália Batista Xavier, no entanto,
sente que o final do corpo está próximo. Diz ao Chico que ao chegar no mundo
espiritual vai pedir a Jesus que lhe envie alguém para substitui-la na afeição
e no devotamento a ele. Além disso, ele seria acompanhado pelos irmãos do
“Arco-íris”, na vida espiritual. No dia seguinte, 19 de abril de
1931, Dona Cidália desencarnou, deixando o Chico desconsolado de angústia. Um
grande sentimento de solidão e melancolia tomou conta do médium.
No mês seguinte, em maio, o espírito de Emmanuel
aparece para o Chico pela primeira vez. Inicialmente, Chico o vê na reunião
pública do Centro Espírita Luiz Gonzaga e nesta mesma semana, ao pé da
cachoeira, à beira do rio, Emmanuel lhe fala pela primeira vez, convidando-o ao
trabalho com o Cristo, e pedindo-lhe disciplina, disciplina e disciplina. Chico
aceita o desafio e começa a nova fase de seu trabalho mediúnico, iniciado em 8
de julho de 1927, desta feita sob a coordenação direta de Emmanuel, que passa,
então, a ser o orientador geral das comunicações por seu intermédio.

Durante o ano de 1931 até companheiros mais
próximos da tarefa no Centro Espírita Luiz Gonzaga, fundado em 1927, debandam.
Cada qual, com suas razões particulares, abandona o posto, deixando Chico
sozinho. Sob a orientação de Emmanuel, a rotina de Chico Xavier, entretanto,
prossegue durante três reuniões públicas semanais no centro espírita fundado
por ele anos antes. A assistência física, contudo, desaparece. Chico faz as
reuniões sozinho. Até seu irmão mais velho, de sua inteira confiança, José
Xavier, se afastara por ter encontrado um emprego noturno, não podendo atender
ao compromisso doutrinário. Sentindo-se só e abandonado em determinada reunião
de fins de 1931, Chico Xavier resolve encerrar as tarefas mediúnicas públicas.
Argumenta com o espírito de Emmanuel que ele escrevia páginas muito lindas, mas
que ele, Chico, se incomodava com a incompreensão de seus conterrâneos e a
ausência dos confrades para a tarefa. De nada adiantava ficar lendo em voz alta
e estudando as obras de Allan Kardec com os comentários espirituais ditados por
Emmanuel uma vez que ninguém estaria ali para acompanhar aquelas belezas
espirituais.
Emmanuel então lhe diz: “Você, por acaso,
pensa que está só na tarefa?” Chico lhe responde: “Sim, o senhor não
está vendo? Estou sozinho! A não ser o senhor comigo não há mais ninguém
conosco! De que adianta prosseguirmos com as reuniões públicas? Até os meus
vizinhos já se incomodam comigo falando sozinho e já estão espalhando na cidade
o boato de que estou ficando louco! O senhor não está vendo isso
acontecer?” Responde-lhe o benfeitor: “Sim, Chico, estou vendo a
calúnia e a maledicência se espalharem, mas devemos ter paciência e compreensão
evangélicas em relação a elas. Silêncio e oração, fé resoluta e serviço com o
Cristo haverá de ser a nossa única resposta!”
Chico, conformado, pergunta a Emmanuel: “O
que fazer diante desse enigma?” Foi então que o espírito de Emmanuel,
apiedado do sofrimento do rapaz, com poucos 20 anos de idade, lhe afiançou:
“Não encerre as reuniões públicas. Eu pedirei a Jesus a bênção de
abrir-lhe totalmente as faculdades mediúnicas da vidência para que você possa
acompanhar e atestar que não estamos sozinhos nas tarefas do centro espírita.
Se Deus assim o permitir, você verá os irmãos que nos acompanham do plano da
vida espiritual. Na próxima quarta-feira, esteja aqui para as tarefas
habituais”.
Chico, disciplinado que era, esqueceu o desejo de
encerrar as reuniões e no dia aprazado lá estava ele para a tarefa. Sozinho no
recinto, leu um trecho de O Evangelho segundo o Espiritismo e outro de O Livro
dos Espíritos, de Allan Kardec. Comentou-os em alta voz para, em seguida,
dedicar-se à tarefa da psicografia com o espírito de seu mentor Emmanuel. Até
então nada de novo havia se apresentado para sua observação ambiente.
Permanecia, aos seus olhos terrenos, tão-somente na companhia de seu guia
espiritual.

Ao terminar a psicografia da noite, contudo,
Emmanuel lhe aplicou passes na região cerebral, atingindo em cheio os centros
coronários e cerebrais com energias novas. Em poucos instantes, Chico Xavier
passou a observar verdadeira multidão de espíritos desencarnados, assistindo às
tarefas, calmamente sentados numa espécie de arquibancada do além. Como se as
paredes do Centro Espírita Luiz Gonzaga se alongassem a distância. Emocionado,
leu as páginas psicografadas por Emmanuel naquela noite, reparando o efeito que
suas palavras tinham naquela gente toda, a assistência espiritual atenta.

Ao terminar a leitura, ficou reparando aqueles
rostos diferentes. Tentava, em vão, ligar aquelas fisionomias, que nunca
houvera visto antes, às famílias conhecidas de Pedro Leopoldo. Pensava ser,
talvez, o pessoal desencarnado de sua cidade natal, mas identificou certa
dificuldade em resolver o problema. Não conseguia associá-los às famílias
locais com quem privava conhecimento. “Que espíritos eram aqueles? De quem
seriam aquelas fisionomias simpáticas a fitar-lhe com carinho e respeito?”
Externou a Emmanuel o assunto para ouvir dele, sorridente, a seguinte revelação
profética: “Este pessoal, que você agora observa com nitidez, é o grupo
espiritual de cerca de 5.000 espíritos simpatizantes do Consolador prometido
por Jesus Cristo, que tem vindo estudar conosco a Boa Nova do Evangelho,
renovada pela compreensão da Doutrina dos Espíritos. Eles todos estão,
presentemente, num curso preparatório da próxima reencarnação, quando estarão,
no futuro, na face da Terra para acreditar nessas mensagens que agora estamos escrevendo
por seu intermédio, e com a finalidade de estudá-las e espargi-las, difundindo
entre os homens de boa vontade a palavra da Vida Eterna. São eles, Chico, que
lhe auxiliarão na tarefa a partir de meados deste século e até o final de seus
dias terrenos, e mesmo depois de sua desencarnação, para que a mensagem
espírita-cristã possa atingir os corações realmente interessados em
espiritualização no Brasil, ou até mesmo no exterior”.

Uma alegria indefinível inundou o coração de Chico
Xavier, que então, carinhosamente, endereçou àquela assembleia diferente o seu
olhar de carinho, amizade e amor. Reparou diversas tonalidades de cores
envolvendo-os de Mais Alto, como se o plano da Vida Maior estivesse
acompanhando aquela cena e endereçando a eles forças novas para o futuro. E
Chico então disse a seu benfeitor Emmanuel: “Agora compreendo. Como fui
infantil ao considerar que estávamos sozinhos! A partir de agora, vou chamar os
nossos novos amigos de irmãos do “Arco-íris”, em homenagem à nossa
querida mãezinha Dona Cidália, que a eles fez referência no passado. Quem sabe
essas luzes multicoloridas que descem do Alto, envolvendo-os, não procedem do
coração amoroso dela a dizer-me, confiante, que não estou só!”

Conforme nos contou Chico Xavier, as reuniões
públicas três vezes por semana no Centro Espírita Luiz Gonzaga de Pedro
Leopoldo permaneceram ainda totalmente vazias na face da Terra, por quase 3
anos, de 1931 até 1934! Emocionado, ao terminar o seu relato, Chico me revelou
que eu era um daqueles que estavam naquela assembleia de aprendizes, e ainda
que no transcorrer de minha atual existência física eu iria, paulatinamente,
reencontrar os 5.000 corações queridos e afins que participaram daquela
universidade do espírito. Disse-me Chico assim: “Aos poucos, você vai
reconhecê-los todos, Geraldinho, da turma de 31!”
  
Geraldo Lemos Neto

9 de dezembro de 2015 


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