Aline e as Flores – Capítulo 3 (Inspirada por Mestra Nada)

Aline e as Flores – Capítulo 3 (Inspirada por Mestra Nada)

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Os dias foram se passando e Aline continuou
esperançosa. Ela se alimentava com pão, umas bolachas de farinha, e bebia
apenas água; não podia sair de sua cela, nem ver o dia ou a noite ao ar livre,
mas ela concentrou suas energias em seu próprio interior e no Bom Deus que sua
mãe havia lhe ensinado a amar. Cantar foi a única forma de sentir a Alegria que
ela tinha quando estava em liberdade.

Os pigmeus não gostavam nada de ouvi-la cantando,
pois como pode uma pessoa estar naquelas condições e ainda cantar? Era um
insulto a eles e, por isso, sempre que eles podiam mandavam a garota se calar.
Aline ficava triste e confusa, porque, em sua vila, as pessoas sempre pediam
para ela cantar, o que ela respondia com muito gosto; porém dessa vez as tentativas
de agradar os seus anfitriões não estavam dando certo, quando ela via um
movimento próximo e cantava na esperança de ser ouvida, logo era atacada com
raiva e escárnio, recebendo ameaças para parar.
Depois de um longo tempo confinada, Aline começou a
questionar se o que o ratinho disse a ela se concretizaria mesmo um dia. A
promessa que ele fizera de que logo ela poderia rever sua família não
acalentava mais a dor dela. A saudade ardia em seu peito e a vontade
desesperada de liberdade tornou o canto da menina baixo e angustiado.

Antes eu cantava, antes eu brincava,
antes eu corria envolta à Liberdade.
As flores eu beijava e o Sol me abençoava
Na minha estrada eu só via beleza
Na minha estrada eu só via beleza.

Hoje me sinto só e desamparada.
Não posso ver a Luz, não posso ver mais nada
Pois em minha frente só há escuridão… Só há escuridão.
Rogo ao Grande Deus que me tire dessa dor

Rogo ao Grande Deus que me tire dessa dor.
Óooh, Meu Senhor, por que permites isso?
Por que não posso mais sentir o teu Amor?

Quando eu brincava, quando eu corria,
nunca imaginava que um dia eu estaria abandonada.
Nem a esperança… Nem a esperança habita mais em mim.


Um dia sem que Aline percebesse, dois pigmeus
estavam escutando-a cantar essa melodia. A tristeza da menina partia até os
corações mais duros. Os anfitriões de forma alguma mostraram interesse pela
música de Aline, muito menos demonstraram que prestavam atenção nela, mas
quando baixinho voz dela mostrava a dor que sentia no momento, de certa forma
os pigmeus se viam naquelas letras tristes de desamparo e solidão. Daquele
momento em diante, eles nunca mais repreenderam Aline por seu canto.

Aline foi sobrevivendo o tempo todo que passou
presa cantando e tentando manter a FÉ que algo poderia acontecer para salvá-la.
Ela não tinha raiva alguma dos que a aprisionaram, pois esse sentimento Aline
nunca conheceu, tudo o que ela queria era entender o porquê daquilo ter
acontecido em sua vida.
Em um dia, depois de quase ter perdido todas as
esperanças, Aline ouviu vários barulhos que adentravam como estranhos em sua
vazia cela: pessoas correndo e gritando, batidas e estouros. Dois pigmeus que
estavam próximos ao cativeiro da garota iam de um lado a outro pensando
inquietos e aflitos.

– ABRAM ESSA PORTA – Sem dúvidas era a voz de
homens. Ao ouvir isso, seguiu-se um estrondo e uma porta acima de onde Aline
estava foi jogada ao chão. “CANALHAS, ONDE ESTÁ A GAROTA?”. Os pigmeus ficaram
sem reação, um deles foi pego pelo pescoço por um homem que apontou uma lança
para o estômago do algoz.

“Por favor, não me mate, ela está aqui, não me
mate” – essa voz estridente e irregular Aline conhecia bem e em um impulso ela
gritou: “Por favor, senhor, não mate o pigmeu! Eu estou aqui embaixo!”.

Aline foi levada de volta para sua casa, sua
família não podia acreditar no que estava vendo quando a menina chegou magra,
aflita e com os olhos sem brilho. Rubi, a cachorrinha de Aline, pulava na
menina freneticamente de tanta Alegria.

– Minha filha! Eu fiquei tão preocupada, como você
está? Como você está? Graças a Deus você voltou – disse a mãe em soluços e
emoção. 
A intenção dos pigmeus era de manter Aline e
qualquer outra criança sob o domínio deles, para que assim eles conseguissem as
coisas que queriam da aldeia. Desde que ela havia sido presa, os aldeões estavam
entregando comida e outros objetos que eram pedidos pelos pigmeus. Os homens
iam até uma baixada, deixavam a “encomenda” e, quando estavam bem longe, os
pigmeus desciam para pegar o que foi deixado. A certa altura, quando os aldeões
estavam voltando, em uma árvore no meio de um campo, os pigmeus colocavam o que
mais eles queriam e a data que deveriam receber o que foi pedido.

Jamais passou na cabeça de nenhum aldeão não
entregar o que se pedia; todos ali eram uma grande família e eles estavam
dispostos a fazer tudo para salvar Aline, afinal poderia ser o filho de
qualquer um da comunidade. Não foi a primeira vez que se ouviu falar em um caso
desses, algumas vezes chegavam notícias de sequestros de crianças em vilas. Mas
o meio desonesto dos pigmeus de receber o que queriam não durou muito tempo,
pois os homens da Capital, a grande cidade que protegia e cuidava das aldeias,
logo encontraram o esconderijo dos chantagistas.

Na noite em que Aline chegou, depois de tomar seu
banho e se alimentar, a mãe foi conversar com ela em seu quarto, mas a menina
não respondia, estava chocada e muito triste. Ao ver como sua filha ficara, a
mãe de Aline começou a chorar e no mesmo instante uma voz que ela conhecia de
muito tempo e que logo sua filha também conheceria, disse em seus ouvidos: “Não
se preocupe com a tão amada Aline, amanhã ela estará melhor do que você jamais
viu”. A mãe sentiu uma profunda Paz colocou sua filha para dormir, esperando
para conversar no dia seguinte.

Nota: História/Texto inspirado pela Mestra Nada


Parte 1 atualizada Aqui
Parte 2 atualizada Aqui
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