
CASUALIDADE E ESPIRITUALIDADE
Nós, seres humanos, sempre ansiamos por compreender o mundo ao nosso redor. Há eras, invocávamos os deuses em busca de ajuda para entender o mundo, mas gradualmente, nos voltamos para as leis da natureza, como a lei da gravidade. De fato, o mundo ao nosso redor parece se comportar de acordo com essas leis causais. Elas parecem explicar tanta coisa, ser determinantes de tudo; contudo, algumas pessoas vivenciam experiências que estão fora dessa construção causal. Elas experimentam eventos e encontros em sua jornada que são significativos para elas. Encontram significado em eventos que afetam seu crescimento interior, que gradualmente trazem sabedoria e agregam grande valor às suas vidas.
Isso levanta a questão de se o mundo é realmente determinado por leis causais matemáticas anônimas, como as leis da física. Se isso for verdade, como é possível que algumas pessoas percebam suas experiências como significativas? Ou você também poderia reformular a questão simplesmente dizendo que as visões espirituais entram em conflito com as visões causais e racionais.
Imagine que você encontra inesperadamente um velho amigo de infância que não vê há muito tempo. Todas as memórias, sentimentos e pensamentos que inundam seu ser desafiam completamente a visão científica de que seu amigo não passa de uma coleção de átomos movidos por genes egoístas. Você percebe que a experiência que está vivenciando é muito mais do que isso.
Algumas perguntas para reflexão:
Em relação à reencarnação — se vivemos múltiplas vidas na Terra, como é possível que nosso planeta fosse tão pouco povoado no passado? Atualmente, a população é de oito bilhões, comparada a cerca de duzentos milhões de anos atrás. Como isso seria possível se todos nós existíamos naquela época?
Se o sofrimento e a vitimização resultam de nossas ações em vidas passadas, e se o perpetrador agiu primeiro, suas vítimas não seriam inocentes?
Será que realmente temos livre arbítrio se tudo é determinado pelas leis matemáticas da natureza e pelo acaso?
Se somos constituídos apenas de átomos, como é possível a vida após a morte?
Como é que uma coleção de átomos pode ter experiências e uma vida interior?
Neste ensaio, esclarecerei como a visão de mundo espiritual difere fundamentalmente da visão materialista tradicional. O espiritual é significativo , em contraste com o materialismo, que é fundamentalmente desprovido de sentido e possui uma estrutura causal completamente diferente. O cerne da visão de mundo espiritual é a consciência, não a matéria. A matéria atua como um canal para expressar a consciência e possibilitar encontros. No âmbito da espiritualidade, a unidade e a consciência estão no centro de tudo, enquanto no materialismo, a separação e a morte o são.
O conceito de materialismo, por vezes referido como ateísmo, implica que a causalidade estabelece uma cadeia de causa e efeito no tempo. A causa está no passado. Assim, dentro do contexto temporal e das leis da física, algo no passado causa algo no futuro. Ponto final. Exclui qualquer outra explicação para o processo, como a consciência e a alma humana.
Na visão espiritual de mundo, a causa do que acontece reside fora do tempo e, portanto, não está no passado. Ela existe em um plano interno atemporal e consciente. Esse plano é chamado de esfera causal, onde os eventos em nossas vidas têm sua verdadeira origem.
Dilemas lógicos como os que mencionei acima surgem quando as duas visões de mundo se misturam. É como se acreditássemos que a Terra é plana e redonda ao mesmo tempo. Tais enigmas se dissipam quando percebemos que o mundo físico faz parte do universo significativo e não está separado dele. As leis da física estabelecem as pré-condições para experiências significativas; elas tornam as experiências significativas possíveis. Podemos compará-las às regras de um jogo.
O UNIVERSO SIGNIFICATIVO
O que é um universo significativo? Em um universo significativo, uma esfera causal interna e profunda cria os eventos que acontecem em sua vida. Esses eventos possibilitam que experiências significativas ocorram e se manifestem. Quando percebemos que uma experiência enriquece nossa consciência e nos ajuda a nos tornarmos mais sábios e amorosos, dizemos que ela é significativa. A fonte desses eventos significativos é a esfera causal. O que causa o evento não reside no passado, mas no campo consciente atemporal do eterno Agora. Por exemplo, em relação à reencarnação, tanto o papel de perpetrador quanto o de vítima estão no Agora . Eles não se originam no passado. No entanto, estão conectados ao campo de experiências que chamamos de passado.
Num mundo sem sentido, também conhecido como universo físico tradicional, os eventos em si não têm significado. São causados por eventos passados aleatórios e pelas leis físicas que estão fora da nossa consciência. Num universo com sentido, o universo físico é o meio pelo qual podemos vivenciar experiências reveladoras e enriquecedoras. Experimentamos o universo físico, mas não existe realidade fora dele.
Usarei uma metáfora para explicar nossa relação com o mundo causal. Um autor de romances psicológicos quer escrever um novo livro e sua ideia é a de uma mulher de férias em Paris. Como turista, ela tira muitas fotos que acaba revendo quando volta para casa. Ao olhar as fotos, ela se assusta ao reconhecer em uma delas uma amiga de infância que ela acreditava estar morta; na verdade, ela havia comparecido ao funeral dela. Assim, a trama começa!
Agora, ela precisa descobrir quem sua amiga realmente era, como a amizade delas se desenvolveu e o que aconteceu com ela no passado. Ela cria uma longa lista de perguntas e precisa elaborar as respostas. Vidas inteiras precisam ser imaginadas, famílias inteiras, eventos dramáticos e, além disso, desenvolvimentos emocionais precisam ser evocados e explicados. O autor constrói um esboço da história e, eventualmente, a mulher de férias em Paris começa a procurar pela amiga que ela pensava estar morta. No final do romance, ele garante um desfecho surpreendente e satisfatório para o leitor.
É claro que a história possui camadas mais profundas. Em última análise, a personagem principal, a turista, está em busca de si mesma, e essa busca é, na verdade, uma jornada para o seu próprio interior. Quem é ela? As lembranças da amiga a fazem recordar algo que perdeu. O que lhe falta? Sua decisão de procurar essa amiga há muito perdida desperta algo nela. A amiga, presumivelmente morta, simboliza algo profundo que está adormecido dentro dela. Além disso, a autora espera despertar algo no leitor enquanto conta a história. Em outras palavras, a história é multifacetada.
Ao longo da história, os eventos se sucedem cronologicamente, com ocasionais flashbacks. O leitor vivencia o desenvolvimento da narrativa ao longo do tempo; ela possui um início, meio e fim cronológicos. Os flashbacks são utilizados para esclarecer pontos de vista e permitir uma perspectiva diferente. O leitor experimenta o tempo e a causalidade à medida que os eventos se desenrolam na página. Os acontecimentos ocorrem no tempo e se sucedem logicamente; uma coisa vem depois da outra. A personagem principal da história não sabe o que aconteceu com sua amiga, mas gradualmente descobre a verdade. No final, tudo se torna claro para ela, e ela finalmente desvenda e compreende o mistério da mulher morta na foto.
Podemos comparar a história à maneira como vivenciamos a vida. Os eventos se sucedem. O que acontece no presente é causado por algo no passado. Quando olhamos para trás, para o curso de nossas vidas, finalmente compreendemos esses eventos. Compreendemos por que nos comportamos como nos comportamos e por que os outros também se comportaram da mesma maneira.
No romance, observamos ambas as formas de causalidade. A autora constrói a história de forma que o leitor a vivencie como se estivesse presente. O leitor é brindado com uma experiência estética agradável. Este é um dos objetivos psicológicos da autora. Ela espera que o leitor se sinta cativado pela história e, ao mesmo tempo, descubra camadas mais profundas ao reconhecer algo de si mesmo na personagem principal, algo que também perdeu e está tentando reencontrar.
Em resumo, existem dois fluxos causais:
Dentro da estrutura do livro, a sequência de eventos segue uma lógica que acompanha as leis da natureza. Seguimos esse fluxo à medida que lemos as páginas do livro em ordem, uma de cada vez. Podemos comparar isso à maneira como vivenciamos os dias de nossas vidas.
Fora do livro está o fluxo de pensamento da escritora, suas ideias, que dão origem ao livro, e é isso que lhe confere significado.
Podemos distinguir dois fluxos completamente diferentes que ocorrem em dois mundos completamente diferentes. O primeiro dentro do mundo do livro, o segundo fora dele.
A primeira linha causal é essencialmente uma ilusão, não um processo em si. Ela serve apenas para dar suporte à segunda linha causal e permite ao leitor descobrir e vivenciar gradualmente a camada mais profunda da história.
Podemos comparar isso à nossa própria experiência. Existe um fluxo causal aparente dentro do mundo do tempo e do espaço tal como o vivenciamos. Existe também um fluxo cuja origem está no mundo causal e que dá significado aos eventos tal como os vivenciamos.
Recentemente, assisti a um documentário sobre a banda de rock americana The Eagles . Um dos integrantes falou sobre o período em que fez parte da banda. Enquanto assistia, parecia um caos total, mas, olhando para trás, me pareceu como um romance literário perfeitamente construído.
Quando envelhecemos e olhamos para trás, para as nossas vidas, sentimos o mesmo. No meio do caminho, tudo parece caótico e aleatório, mas em retrospectiva, revela-se significativo e como se tudo tivesse se encaixado perfeitamente.
Nossas vidas têm significado. Não podemos encontrar esse significado e compreendê-lo se os eventos do universo em que vivemos forem explicados unicamente pelo primeiro fluxo causal, mencionado anteriormente. Podemos comparar nossa situação na vida à do leitor, enquanto ele vivencia os eventos que se desenrolam à medida que vira as páginas. Os acontecimentos e os encontros descritos não são apenas o que ocorre na superfície; existe uma camada mais profunda, e é nessa camada que encontramos significado e somos enriquecidos.
Quem é o autor do livro da sua vida? É você. É a sua alma. A alma cria tudo o que você vivencia. Baseada em suas experiências em vidas passadas, a alma entra no corpo que você tem nesta encarnação. Ao fazer isso, ela esquece suas vidas anteriores para começar uma nova página no extenso livro da sua vida. Nesta encarnação, sua alma deseja ter novas experiências.
Para a alma, os dias de nossas vidas são como as páginas de um livro onde a história é escrita. Claro, a personalidade possui certo grau de liberdade. Nesse aspecto, a vida se assemelha mais a um jogo de computador do que a um livro. Há todo tipo de escolhas possíveis, mas o enredo principal e os eventos mais importantes são preestabelecidos.
O UNIVERSO FÍSICO VISTO COMO UM ESPAÇO PARA EXPERIÊNCIAS
O universo físico é uma tela na qual a alma cria espaço para suas experiências. Esse espaço é a soma de todos os eventos possíveis que podem acontecer em uma vida. Por exemplo, uma viagem à China pode ser uma experiência possível, mas uma viagem à Lua pode não ser. Certos eventos no espaço da sua experiência são impossíveis, outros são prováveis e outros ainda são certos e significativos. Esses espaços de experiência não são isolados; você pode encontrar outras pessoas, conviver e compartilhar experiências profundas.
O universo é a soma de todos os espaços de experiência. Para manter a metáfora do livro, é uma biblioteca infinita que contém todos os livros. É um espaço divino de experiência onde se pode viver e experimentar infinitas possibilidades. O universo físico não é composto apenas de elementos físicos, como átomos e estrelas. É um espaço que possibilita experiências únicas para um número infinito de seres. É para isso que foi projetado e destinado; é por isso que o tempo e o espaço foram concebidos. O espaço limita as experiências do ser humano, permitindo que ele se concentre em algo específico, independentemente do que acontece no resto do universo. O tempo nos proporciona uma ordenação significativa dessas experiências. Podemos comparar o universo físico a uma pilha de páginas em branco sobre as quais uma história é escrita. As limitações não estão no papel, mas na mente do escritor. A diferença entre espiritualidade e racionalidade mencionada na introdução pode ser explicada a partir dessa perspectiva.
A VISÃO TRADICIONAL
A definição tradicional do universo é a de um espaço tridimensional composto de partículas e uma única linha temporal. O todo se move ao longo dessa linha temporal, do passado para o futuro. Os eventos do passado determinam o futuro. A vida humana é vista como algo sem sentido, determinada pelo acaso, um breve instante entre o nascimento e a morte. Segundo essa definição, o universo seria uma espécie de prisão sem sentido.
A NOVA VISÃO
Este universo que experimentamos é um espaço experiencial criado especialmente para nós pela nossa alma. Ele é significativo. Ele existe para nós. Através da experiência de viver nossas vidas, nossa alma adquire conhecimento vivo, que traz significado. O conhecimento pode vir de um livro ou da experiência. A alma gosta de experimentar. Então, isso não só traz significado, mas também consciência. Este todo — o espaço da experiência, nós mesmos, nossa alma — é uma partícula em um universo infinitamente grande: o todo.
A ALMA
Nossa alma é a fonte de nossa sabedoria e conhecimento. De nossa perspectiva, a alma adquiriu essa sabedoria no processo linear de suas muitas encarnações. Em cada vida, uma nova parcela de sabedoria foi adquirida, enriquecendo a alma. Vista dessa forma, a alma é algo que se desenvolve ao longo do tempo.
Mas a perspectiva que a alma tem de si mesma é diferente. A alma sempre possuiu sabedoria e experiência porque existe independentemente do tempo, mas essa sabedoria teve que ter sido adquirida em algum momento. Vista dessa perspectiva, a alma é como os raios do sol. Em uma extremidade de cada raio, há uma vida adquirindo experiência em um espaço experiencial ligado ao tempo e ao espaço. Uma extremidade do raio existe na esfera atemporal da alma, e a outra extremidade evolui em um espaço experiencial. O próprio raio é parte da alma, separado do tempo e do espaço, mas experimenta ambos.
Experimentamos o tempo e o espaço, mas também somos separados deles. É precisamente porque somos separados deles que podemos experimentá-los. Quando vemos um relógio ticando, por exemplo, percebemos que estamos nos movendo através do tempo e, portanto, separados dele. Quando olhamos para uma paisagem, todos os seus detalhes se unem em nossas mentes e formam um todo — a paisagem. Mas não existe uma única célula cerebral onde tudo se junta e transforma todas as diferentes informações em uma única imagem. A “Unidade” que experimentamos não pode ser localizada em um ponto específico do nosso cérebro.
Essa tela, chamada mundo, onde adquirimos experiência, possui as seguintes características: é viva, infinita, multidimensional e não linear.
Características do Espaço Experiencial
As questões levantadas na introdução remontam à contradição entre uma visão de mundo na qual os eventos de nossas vidas são significativos e importantes e um universo no qual tudo é determinado pelo acaso e pelas leis naturais que existem completamente independentes de nossas mentes. A antiga definição clássica de universo é a de que ele é inerte, tridimensional e existe em um eixo temporal, uma cadeia infinita de causa e efeito. Em contraste, o universo significativo, o espaço experiencial, é vivo, infinito, multidimensional e não linear.
Vivo
O que significa estar vivo? Dizemos que algo está vivo se houver consciência por trás de sua forma externa. Algo que está vivo experimenta o universo de uma maneira única. Se você fechar os olhos e se voltar para o seu interior, perceberá que a base da sua existência é a consciência. Sem consciência, você não teria consciência de nada. Você não seria capaz de pensar, sentir ou agir — você não existiria . O que você sabe sobre o universo, você sabe de dentro, e a consciência está no centro disso.
Não é este o princípio básico de tudo? A fonte de toda a vida? No universo significativo, sim, isso é verdade. A consciência está por trás de tudo que se manifesta em forma. Tudo o que não possui consciência não existe, não pode se manifestar em forma. Sem o interior, não há exterior; tudo tem um coração.
O universo significativo é um universo vivo, um universo permeado e baseado na consciência. A antiga ideia tradicional do universo é a de que ele é como uma máquina, não um ser vivo, desprovido de vida interior e essencialmente morto. Na verdade, definir a consciência dessa maneira não é preciso. Afinal, se tudo está dividido em tempo e espaço, a unidade não é possível, e é precisamente isso que a consciência é. É a Unidade por trás da forma. Quando converso com uma pessoa, não a vejo como uma coleção de átomos; percebo a Unidade por trás da forma. Isso é vida.
Infinidade
A lógica é completamente diferente quando falamos de infinito. O matemático alemão David Hilbert criou o Hotel de Hilbert. Imagine um hotel com um número infinito de quartos, todos ocupados. O hotel está lotado. A cada quarto é atribuído um número único de 1 a ∞ (o símbolo do infinito). De repente, todos os hóspedes são solicitados a se mudar para um quarto com o dobro do número do seu quarto atual. O hóspede do quarto um vai para o quarto dois, o hóspede do quarto dois vai para o quarto quatro, o hóspede do quarto três vai para o quarto seis. Todos os hóspedes permanecem no hotel, mas todos os quartos com números ímpares ficam vazios; portanto, metade do hotel está vazia.
Você pode repetir este exercício muitas vezes. Se usarmos o número dez, e os hóspedes se mudarem dez vezes para um quarto com o dobro do número, apenas um dos 1.024 quartos estará ocupado. Se percorrermos os corredores deste hotel infinito, parece que quase todos os quartos estão vazios, encontrando um hóspede apenas ocasionalmente. No entanto, ninguém saiu do hotel; todos ainda estão em seus quartos. É uma experiência estranha tentar compreender a lógica do infinito!
Algo semelhante acontece na Terra. A Terra é essencialmente como o Hotel de Hilbert; um espaço infinito no qual a experiência acontece. Não é algo físico. Não é uma esfera tridimensional viajando pelo espaço da perspectiva da sua alma, mas sim viajando por um espaço multidimensional infinito. Assim como o hotel parece quase vazio, mas todos estão lá dentro, o mundo de outrora parece pouco povoado, embora todos que vivem hoje estejam lá.
O que nos leva à multidimensionalidade.
Multidimensionalidade
A ideia do infinito pode nos assustar. Como podemos ser ilimitados? Como podemos continuar indefinidamente? Como somos infinitos? Essa pode ser uma ideia assustadora. Preferimos imaginar que somos finitos para que possamos compreender, supervisionar e, pelo menos às vezes, nos sentirmos seguros. No entanto, mais cedo ou mais tarde, chegamos ao limite de acreditar que somos meramente finitos. Percebemos que nossa “caixa de pensamentos” se tornou uma prisão e deixamos nossa consciência se libertar.
Era uma vez, ficávamos extremamente assustados com os campos, florestas e mares infinitos que descobrimos na Terra, mas com o tempo, isso mudou. E em algum momento, nos aventuraremos pelo cosmos quando percebermos que a Terra se tornou pequena demais para nós. Sentiremos que existe algo mais, algo que existe além da caixa em que nos encontramos. Cedo ou tarde, vamos querer saber o que é isso.
A multidimensionalidade torna possível a existência de compartimentos e espaços para a experiência dentro do infinito. Especificamente, o mundo físico que você experimenta possui três dimensões espaciais e uma dimensão temporal. Acreditamos que todos as experimentamos de forma comum, mas não é o caso. Cada espaço que contém a experiência é criado exclusivamente para cada um de nós. A multidimensionalidade torna isso possível.
Multidimensionalidade significa que existem realidades paralelas onde fizemos escolhas diferentes e elas coexistem. Não precisamos temer fazer a escolha errada em nossas vidas, porque tudo será, em última análise, experimentado.
Infinito e multidimensionalidade são outras palavras para liberdade. O que chamamos de universo é apenas uma pequena parte de algo muito maior — o multiverso. Para entender o multiverso, precisamos pensar de forma diferente sobre espaço e tempo. Quando pensamos no espaço se estendendo infinitamente em todas as direções, pensamos que ele engloba tudo. Mas não engloba. Por exemplo, quando estamos sonhando, nos encontramos em um espaço completamente diferente. Dentro da nossa cabeça, existem apenas sinais elétricos, não as imagens que vemos no sonho. Nosso sonho não está acontecendo no espaço físico como o conhecemos. Está acontecendo em outro espaço. Podemos chamá-lo de espaço onírico.
Embora não possamos imaginar, além do espaço tridimensional que se estende infinitamente em todas as direções, existe um número infinito de outros espaços possíveis — mundos e universos paralelos. Não há limites. Se você observar com atenção, poderá ver um universo inteiro por trás dos olhos de cada pessoa que encontrar. O que é notável é que nossa consciência está conectada a todos eles. A consciência opera a partir do nível da Unidade e, por abordar tudo dessa perspectiva, assume a forma de tudo e qualquer coisa à medida que adquire experiência.
Multidimensionalidade significa que o universo ao nosso redor se molda à nossa consciência e nos proporciona o ambiente necessário para experimentarmos e crescermos. Significa que cada aspecto da consciência possui seu próprio espaço único para vivenciar experiências.
Não linear
Passado, presente, futuro e a infinita cadeia de causa e efeito. É assim que pensamos, como vemos o universo, como tudo se explica. Essa é a imagem linear. É fácil de entender porque a reconhecemos ao vivenciarmos o mundo ao nosso redor.
A física moderna nos mostra que não é tão simples assim, pois o tempo pode passar lenta ou rapidamente e, na escala da luz, pode até mesmo parar. O momento presente não é um conceito bem definido. Um evento que está no futuro para uma pessoa pode estar no passado para outra. Não há lugar algum na física para a passagem do tempo como a vemos em um relógio, não existe algo como o fluxo do tempo. A física pressupõe a existência de um eixo do tempo, mas não de um fenômeno que se mova ao longo desse eixo a uma velocidade de um segundo por segundo.
A filosofia levanta questões fundamentais sobre nossa compreensão do tempo, como por exemplo, como algo pode existir e, um instante depois, deixar de existir por não estar mais no presente. Isso também não faz sentido psicologicamente. Olhamos no espelho e vemos nossos rostos envelhecendo, mas por trás dos nossos olhos existe algo que não envelhece. A criança física que fomos no passado se foi para o mundo exterior, mas essa criança ainda vive dentro de nós.
Recentemente, ouvi uma senhora idosa suspirar: ” Como é possível que a jovem que sou tenha acabado neste corpo velho?”. A resposta é que você não envelhece porque está separada do tempo, mas sim seu corpo . A física, a filosofia e a psicologia demonstram que nossa compreensão ingênua e cotidiana do tempo está incorreta. Ao mesmo tempo, essa linearidade temporal possui um profundo significado psicológico. Ao vivenciarmos as coisas em uma determinada ordem — ao lermos as páginas de um livro em sequência — o significado se torna possível, a história de nossa vida emerge e adquirimos sabedoria e sentido. Esse significado, em última análise, é absorvido pela sabedoria e conhecimento atemporais da alma.
A perspectiva não linear é a seguinte: da esfera causal, a alma irradia sua energia como o sol. Cada raio se encarna em um espaço de experiência e se absorve completamente nele. O significado vivenciado ali retorna, em última instância, à alma na forma de sabedoria vivida. Isso constitui um todo. A alma “concebe” a história e cria o espaço de experiência no qual a história é vivida por um raio, uma encarnação da alma. Isso dá vida ao conhecimento e o transforma em sabedoria. A sabedoria atemporal da alma.
Do nosso ponto de vista, parece haver um ciclo. A alma cria. Ela encarna em sua criação, vivencia eventos significativos e a sabedoria adquirida com essas experiências é absorvida pela alma. Em certo sentido, esse é o ciclo do renascimento. Da perspectiva da alma, isso ocorre em um Agora atemporal.
A alma sabe que as experiências são necessárias para adquirir conhecimento. Para vivenciar as coisas profundamente, quanto menos se sabe, maior a experiência; portanto, o conhecimento adquirido em vidas passadas é esquecido quando a alma inicia uma nova encarnação. Quando a experiência encarnacional da alma se completa, a consciência retorna ao nível de conhecimento separado do tempo e do espaço, criado para garantir que experiências significativas pudessem ser vivenciadas.
Nossas vidas são a vivência daquilo que já sabemos no fundo do nosso ser.
Finalmente — O Eterno Agora
O agora que conhecemos não é eterno. É apenas um instante, após o qual nossa consciência se move para outro ponto no eixo do tempo e um novo momento surge. É assim que atravessamos o tempo, é assim que crescemos. É assim que lemos as páginas do livro de nossas vidas e, ao lermos, encontramos significado e alcançamos uma compreensão mais profunda.
Mas e se nossa consciência já estiver lá? E se nossa consciência for infinita e abarcar tudo? A consciência então cessa sua jornada através do tempo porque não há mais nada a acrescentar a ela. Tudo o que é experimentado já existe dentro dela. A progressão do tempo muda o foco de nossa consciência, e nos concentramos em outro momento.
Este é o Agora eterno. Todo ser vivo, toda planta, todo animal que já existiu existe dentro desse Agora eterno. É uma paisagem infinitamente vasta na qual tudo está. Tudo está presente à luz dessa consciência única e abrangente. Tudo o que já foi e tudo o que sempre será. Nada se perde.
O eterno Agora é a única consciência abrangente e atemporal. É a fonte, é o campo de amor em que vivemos, o campo causal supremo. A conexão eterna de tudo com tudo.
Você pode caminhar por uma paisagem deslumbrante e, aos poucos, descobrir que tudo sempre esteve ali; você pode enxergá-la como um todo. A unidade é a fusão de ambas as perspectivas. Somente quando observamos e vivenciamos cada planta, cada animal, separadamente, é que a beleza do todo adquire seu significado mais profundo.
Não existe essa coisa de desaparecer em meio a um panorama geral. A base desse panorama geral é o profundo respeito pelo indivíduo.
Nada se perde; tudo chega à sua plenitude.
O homem é ao mesmo tempo criador e criatura.
Você é o eterno Agora.
Canal/Autor: Gerrit Gielen
Fonte: https://www.jeshua.net/articles/by-gerrit/on-forgiving-others-and-yourself/
Tradução: Sementes das Estrelas / Paula Divino